sábado, 2 de novembro de 2013

ANJO NEGRO



PRÓLOGO
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Nem todos tiveram o fim de sua história com a chegada da peste negra na Europa. Esse foi o caso de Darian, que nem estava de corpo presente na Terra; para ele, o fim da peste foi o início de tudo. 

Algumas pessoas podem não acreditar, mas todos nós, anjos e humanos, possuímos uma vida traçada ainda no céu em forma de teias, como aquelas que as aranhas fazem. Não importa quantas voltas a teia dê, sempre se encontra em algum ponto e acaba sempre no mesmo lugar.Nem todos tiveram o fim de sua história com a chegada da peste negra na Europa. Esse foi o caso de Darian, que nem estava de corpo presente na Terra; para ele, o fim da peste foi o início de tudo.

Na época da peste negra, as pessoas, por estarem vivendo um momento de muito desespero e dor, achavam que dessa vez estava próximo o Apocalipse. Não acreditavam mais na salvação divina, porque milhares de pessoas sucumbiam diariamente diante da devastadora peste, que chegou a ser comparada ao próprio inferno, ou considerada como um castigo enviado por Deus contra os feitos nefastos dos humanos, porém punindo indiscriminadamente todos os seres: ricos, pobres, bons e maus. Nesse tempo, incontáveis pessoas apareciam mortas pela manhã e, devido a isso, surgiu na cidade de Londres um burburinho de que o incauto que fosse pego vagando à noite nas ruas era levado pelos devoradores de almas. 

Os boatos se espalhavam tão rápido quanto a peste e as pessoas acreditavam em tudo que ouviam, principalmente se se referissem à morte ou à peste. Passaram então a seguir alguns cuidados que se tornaram verdadeiros rituais, como se trancarem em casa no final da tarde. Nos momentos de desespero, alguns ainda colocavam as mesas ou quaisquer móveis grandes encostados nas portas e janelas, porque acreditavam que poderiam ser abduzidos de alguma forma por esses seres. 

Quem era visto circulando à noite e não amanhecia morto era considerado um deles, um demônio, e era queimado logo depois de ter sua alma lavada com água benta. 

Os governantes, para poder dar sepultura à grande quantidade de corpos mortos pela peste negra e tentar evitar outros tipos de doenças, fizeram uma lei autorizando a cavação de diversas valas nos arredores dos muros da cidade. Essas valas seriam usadas como covas comunitárias, onde um dilúvio de corpos eram jogados e queimados. Podiam-se contar quantas pessoas naquela época conseguiram manter-se ilesas deste “castigo divino”. 

No meio de tanto desespero e irracionalidade, imigrantes vindos de todas as partes da Europa e Ásia viam no fim dessa epidemia uma maneira de enriquecer, trabalhando na reconstrução da cidade, com sua mão de obra cara. Pessoas com algum conhecimento em medicina que não haviam sido infectadas, procurando ajudar as demais, improvisaram e trabalharam em clínicas médicas espalhadas por todos os lados da mórbida cidade de Londres. Um desses era Alan, um jovem e belo rapaz de olhos claros, recém-formado em Clínica Médica. Ele era um dos muitos médicos imigrantes que vieram da Alemanha à procura de trabalho, e via nessa epidemia uma maneira de se estabelecer na profissão. Esses médicos, que usavam roupas e máscaras especiais, passaram a ser a única esperança para milhares de pessoas enfermas, já que Deus havia se voltado contra elas, pensavam.

Desmoronando a autoridade das leis divinas, moribundos revoltados questionavam o porquê de suas preces não serem atendidas, mas desconheciam a verdade escondida por trás dos milagres médicos. A peste não era um castigo divino, era apenas um fato. Foi provocada por falta de hábitos higiênicos e de conhecimentos médicos. Deus não os tinha abandonado, seus anjos os observavam e os amparavam o tempo todo, dia após dia. Porém, não era somente eles que observavam... 

Havia também uma legião de anjos caídos que se fortaleciam com o desespero, dor e a revolta de algumas pessoas. Em pouco tempo, os homens se odiaram tanto que, se um filho fosse atacado pela doença, seu pai não cuidava dele e vice versa. Simplesmente eram largados à própria sorte. 

Esses anjos caídos ficavam constantemente no encalço dessas pessoas, pois estavam na mesma sintonia, compartilhando os mesmos sentimentos; e, quando a morte era certa, aguardavam-lhes do outro lado. Mesmo com as Potestades ao seu lado, lutando para resgatá-los, a maioria desses moribundos não queria ser salva ou, mesmo querendo a salvação, eles não encontravam a luz, por estarem mergulhados profundamente em sua própria angústia, cegos demais para ver seus anjos salvadores. Assim, ao morrerem, não podiam ser encaminhados ao socorro, permanecendo vagando pelo Umbral. 

Alan se destacava dos outros médicos por sua pouca idade e grande determinação. Muito alegre, otimista e bastante prestativo, era um dos mais jovens, ou talvez o mais jovem entre eles, com apenas 23 anos. Não era um rapaz alto, mas chamava atenção por causa dos seus cabelos vermelhos encaracolados, que contrastavam com sua pele branca. De tanto fumar, era magro, quase esquelético. Comia pouco e quase não dormia. Brincando, costumava dizer aos seus pacientes que teria a eternidade para fazê-lo, por isso precisava estar acordado caso algum enfermo precisasse dele. 

Nesta trajetória de trabalho que chegava a ser quase vinte quatro horas, Alan foi comparado diversas vezes por seus pacientes com o anjo que eles afirmavam ver ao seu lado. E ele sempre respondia a essa gentileza com um largo sorriso. 

Tão perto que os anjos estavam dos humanos e justamente por ser comparado a um deles, Alan despertou o interesse de um anjo em particular, que o observava do céu. Esse anjo tinha como dever resgatar as almas que queriam ser salvas. Ele, então, desceu à Terra e passou a seguir de perto os passos do jovem médico, acompanhando-o em seus afazeres diários. Quando era de seu interesse, o anjo assumia a forma humana, ajudando-o como enfermeira. 

Com o tempo, esse anjo percebeu que havia ficado emocionalmente envolvida com esse humano e com o trabalho que ele desenvolvia, chegando a passar mais tempo em sua forma humana do que na de anjo. 

Com a sua guarda assim aberta, tornou-se presa fácil para a influência negativa de Kesabel, um anjo caído, que a incentivou a ter relações sexuais com esse humano. Levada pelo sentimento de amor e pelas doces palavras de Kesabel, entregou-se a Alan achando que não estaria infringindo nenhuma lei divina. As leis de Deus, no entanto, haviam sido violadas, e o anjo recebeu como punição o pior dos castigos: foi transformada em humana. Somente então compreendeu que havia sido enganada, o que fez crescer em seu peito sentimentos de revolta e raiva até então desconhecidos.


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