sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Por Ricardo Biazotto

A disputa entre o bem e o mal é tão comum na literatura que raros são os casos em que um autor consegue se tornar original e convencer o leitor. E quando encontramos uma história que tinha tudo para ser mais do mesmo e ela ainda consegue nos surpreender, percebemos o seu indiscutível potencial.

O primeiro volume de O Segredo da Caveira de Cristal conta a história da disputa pelo poder entre dois irmãos. Tudo começa quando a rainha Arápia fica grávida de gêmeos. A boa-nova causa euforia e esperança em todos os súditos, que aguardavam ansiosamente pelo sucessor do rei Alphonsus. Mas quando o momento de coroar o novo rei se aproxima, Alphonsus vai até a casa de um mago e vê o futuro dos príncipes em sua bola de cristal.

Seguindo o que foi visto na bola de cristal do mago, o rei faz a sua escolha e a partir de então situações estranhas acontecem no reino. E tudo indica que isso irá se agravar com o passar do tempo. Sendo assim, Heian, coroado como o novo rei, precisa enfrentar todo o mal que assombra o seu reinado e ainda conseguir usar de sua bondade para derrotar o ódio, a inveja e a ganância que podem causar a sua queda – ou até mesmo levá-lo a morte.

“Mongho desejou boa sorte ao amigo, que ficou sorrindo, sem entender ao certo o que ele queria dizer. Em seguida, saiu correndo pelos corredores em direção ao salão de festa, e procurou um bom lugar para sentar, para que pudesse ver de perto a escolha do amigo como sucessor do trono. Por um momento, ficou pensando no porquê de ter sentido um arrepio percorrer o seu corpo enquanto lhe desejava boa sorte. Achou estranho, mas relevou. Acreditava piamente nas palavras de seu pai: Heian seria o rei”.

Não é a primeira vez que Mallerey Cálgara consegue surpreender em uma obra literária. Autora de Anjo Negro, Mallerey novamente conta uma história simples, com mensagens que cativam, e consegue conquistar o leitor pelas aventuras de seus personagens tão bem estruturados.

Publicando seu novo livro dois anos após sua estreia no mercado editorial, Mallerey mostra uma grande evolução literária – que pode ou não ser devido ao tempo e a experiência que adquiriu ao longo dos últimos anos. Narrado em terceira pessoa, O Segredo da Caveira de Cristal tem como ponto forte as divisões entre cenários e as respectivas cenas, diferenciando-se de Anjo Negro, que dividiu opiniões por seguir um estilo oposto ao encontrado na nova obra.

Se a estrutura narrativa já agrada a ponto de causar uma leitura ágil e empolgante, O Segredo da Caveira de Cristal se destaca também por outros motivos, como o fato de diversas revelações e acontecimentos marcarem cada um dos capítulos, impedindo que esse ou aquele seja monótono e até mesmo irrelevante. Mesmo quando a autora não se foca em determinada situação, não encontramos pontos soltos na história. E quando percebemos, tudo está ligado da melhor maneira possível.

Ainda que possua acontecimentos previsíveis, principalmente no início da narrativa, o livro segue com várias surpresas ao longo de seus capítulos. Uma ou outra atitude dos personagens também pode ser considerada previsível, no entanto são coisas que acontecem justamente para dar uma continuidade, e por isso contribuem para o futuro da história e da batalha envolvendo o bem e o mal.

Vale ressaltar ainda que o livro nos apresenta a personagens dos mais variados tipos, despertando o sentimento de amor e ódio. Enquanto nos encantamos pela amizade de Heian e Mongho, filho do mago que se vê obrigado a proteger o novo rei, odiamos completamente o príncipe Sulco, responsável por todas as maldades da obra. Irritante, arrogante e misterioso, Sulco é o tipo de vilão que não conquista nem mesmo aqueles leitores que sempre se apaixonam pelos vilões das obras literárias.

Apesar de situações previsíveis, e outras até mesmo desnecessárias, o livro consegue cumprir o que promete. As aventuras vão além dos muros da residência real, e os segredos se espalham para que cada personagem tenha sua importância, buscando salvar o reino ou simplesmente conquistá-lo usando de atitudes pouco convencionais. O que não significa que tudo acabou aqui, pois sabemos que esses detalhes se intensificarão com o segundo livro.

Muito bem descrito, com muita magia, sinais de uma verdadeira amizade e até mesmo um idioma próprio, que dá uma complexidade maior para a obra, O Segredo da Caveira de Cristal é uma ótima escolha para os amantes da fantasia que buscam uma obra nacional agradável. Mas uma coisa deve ser lembrada: é preciso tomar cuidado com os representes do mal, afinal, os aliados podem surgir de onde menos esperamos – e as consequências podem ser drásticas.

“O mesmo livro de magia de seu avô que mostrava como usar a bola de cristal, ensinava também a manipular e dominar os elementos: a terra, a água, o ar e o fogo. As palavras ainda não estavam muito claras para ele, porque não dominava com perfeição a linguagem dos magos, mas resolveu começar os seus testes com o elemento fogo, o que gerou a explosão que quase incendiou o castelo. Contudo o resultado final foi surpreendente. Mongho conseguiu criar com as mãos pequenas bolas de fogo; não era fogo de ilusão, era fogo real, mas Mongho não se queimava”.

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